Newton tinha a impressão de que havia captado apenas alguns aspectos acidentais da realidade: ele entendia o mecanismo que fazia cair as maças e girar os astros, mas pra isso, abstraiu dos corpos todas as suas características não mensuráveis! Tudo o que ele explicou era válido apenas para corpos tomados como "arranjos de matéria de determinada quantidade", coisa que de fato eram, mas que não as esgotava. A afirmativa dele de que ele não se via senão como "um garotinho brincando na praia" implica que ele tivesse clara essa distinção, e podemos então concluir que ele, o criador (junto com Galileu) do mecanicismo, soubesse melhor do que aqueles que o sucederam que seu mecanismo era apenas uma abstração da realidade, não explicando-a totalmente.
Isso é interessante, pois sabemos (pelo próprio texto de Newton) que a obra de Descartes teve grande influência no pensamento dele e no seu interesse mais profundo pela matemática. Para Descartes, tudo se dividia em "res cogitans" e "res extensae", ou seja, em coisas que pensam (fantasminhas que se percebem como reais porque estão pensando) e coisas que podem ser medidas. Todas essas características qualitativas dos corpos físicos são, pra ele, subjetivas, meras criações do fantasminha ao entrar em contato com quantidades mensuráveis. Se Newton não achava que sua mecânica (que, a parte da igualdade minercial = mgravitacional sem explicações, era toda explicada) "explicava" tudo, então possivelmente ele acreditava em algo para além daquilo que pudesse ser medido.
(e por esse algo, não estou falando de Deus, pois Nele sabemos que Newton acreditava. Falo de qualidades NÃO mensuráveis)

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